Utilizada com o objetivo de proteger o sistema imune e prevenir infecções, a glutamina é o aminoácido livre mais abundante no plasma e no tecido muscular, sendo esse último o principal envolvido em sua síntese.
Em situações de estresse, como na prática de exercícios físicos intensos, a síntese de glutamina pode ser prejudicada, reduzindo sua concentração plasmática; tal quadro conduz ao cenário de imunodepressão que ocorre, principalmente, em atletas de alta rendimento. A importância da glutamina para o sistema imune reside no fato de ela ser o principal precursor de energia e macromoléculas essenciais ao linfócito, célula do sistema imune. Dessa forma, a redução crônica da presença de glutamina, em decorrência de treinos pesados, implicaria no aumento da suscetibilidade dos atletas a infecções.
Treinos demasiadamente intensos e com tempo reduzido de recuperação aumentam o estresse metabólico. Embora o organismo se recupere continuamente a cada treino, lesões musculares contínuas provocam uma resposta inflamatória perene, agravando lesões subjacentes que comprometem a saúde e o desempenho dos indivíduos. Nesse sentido, a suplementação com glutamina tem o objetivo de restabelecer a homeostase do organismo, bem como atenuar a lesão e a imunossupressão após exercício aeróbio exaustivo.
Em trabalho de Raizel et al. (2018), os autores avaliaram os efeitos da suplementação com L-glutamina e L-alanina sobre mecanismos de lesão muscular, inflamação e proteção celular induzidos por exercício resistido. Os resultados mostraram que a L-glutamina se mostrou eficiente no aumento da concentração plasmática e muscular de glutamina. No entanto, embora o aminoácido traga benefícios ao sistema imune dos atletas, sabe-se que sua administração oral reduz a biodisponibilidade às células musculares e do sistema imune, uma vez que cerca de 50% de sua metabolização ocorre na mucosa intestinal e no fígado. Sendo assim, a opção pela administração de dipeptídeos de glutamina – como a L-glutamina – constitui-se em uma alternativa mais efetiva para a transposição da barreira intestinal.
Schöler e Krause (2017) ressaltam, ainda, que, durante o treino intenso e prolongado, a concentração de glutamina fica bastante reduzida, contribuindo para a diminuição da funcionalidade do sistema imune. A suplementação oral, durante ou logo após o exercício, pode contribuir para reestabelecer os níveis adequados desse aminoácido no organismo. Pode, também, contribuir para a manutenção de um balanço proteico positivo e atenuação do dano muscular induzido por exercício, agindo em parâmetros como perda de força e dor. Finalmente, o uso de glutamina pode aumentar a produção de glicose, sustentando a glicemia ao longo de treinos mais intensos.
Portanto, a utilização da suplementação de glutamina, sobretudo, na forma de L-glutamina, e, quando indicada por profissional especializado, pode trazer benefícios aos atletas de alto rendimento, logo, contribuindo para a minimização da inflamação, melhora da resposta imune e recuperação muscular eficiente.
REFERÊNCIAS
PAULA, S.L. et al. Glutamina como recurso ergogênico na prática do exercício físico. Revista Brasileira de Nutrição Esportiva, v. 9, n. 51, p. 261-70, mai. 2015.
RAIZEL, R. et al. Citoproteção e inflamação: efeitos da suplementação com glutamina e alanina sobre a lesão muscular induzida pelo exercício resistido. Revista Brasileira de Nutrição Esportiva, v. 12, n. 69, p. 109-15, jan. 2018.
SCHÖLER, C.M.; KRAUSE, M. Metabolismo da glutamina e Exercício Físico: aspectos gerais e perspectivas. Revista Brasileira de Ciência e Movimento, v. 25, n. 2, p. 166-75. 2017.